sábado, 30 de junho de 2007

De volta, mas ainda não recuperada!

Quem é professor, quem os tem na família ou convive com eles de perto, percebe que as duas últimas semanas de um período, e em especial se esse é o último, são deveras complicadas. Como diz uma das minhas colegas da secção ao lado (um dia explico o que isto quer dizer) é uma questão de sobrevivência!

Os testes acumulam-se em cima da secretária, fazemos noitadas para os conseguirmos corrigir e entregar.
São as notas/avaliações para pensar, ponderar, reflectir, pesar, enfim, propor as classificações que em alguns casos irão decidir o futuro dos nossos alunos. É preciso apresentá-las com 48 horas de antecedência para serem lançadas.
São ainda os relatórios de Área de Projecto, Estudo Acompanhado, Formação Cívica e aulas de apoio em geral.

Do outro lado está ainda o trabalho do Director de Turma! É preciso verificar as notas, tentar "adivinhar" quem estará em situação de retenção, ou em situação de dupla retenção (ou tripla) para chamar o Encarregado de Educação para dar o seu parecer. Cartas, avisos de recepção, registos, tudo feito em triplicado a multiplicar por 10 alunos!

É preciso abrir os registos de avaliação do 3º período, para cada aluno. Contabilizar as aulas dadas pelos colegas que ainda por cima se enganam a numerar as lições (e que temos de corrigir), contabilizar as aulas assistidas de acordo com as faltas, aceitar justificações de faltas quando os extractos já estão imprimidos, registar tudo isto nos registos de avaliação, por aluno, atempadamente, para os podermos entregar aos colegas que leccionam as respectivas áreas curriculares, para estes poderem preencher as “cruzes” antes da reunião (o que nem sempre acontece).

É preciso registar nos registos biográficos as faltas dos alunos ao longo do ano, verificar os contactos estabelecidos com os Encarregados de Educação para ir preparando os relatórios de retenção que têm de ser apresentados em Conselho Pedagógico. É preciso fotocopiar todo esse material para ir elaborando o dito relatório.

O Director de Turma tenta adiantar o máximo de trabalho possível para a reunião não demorar demasiado. É um erro, pois o que se verifica é que a maior parte do Conselho de Turma não está atento e lá temos de nos impor, fazer cara de mau, acabar com as conversas paralelas, dar um murro na mesa!
São propostas aquilo que ali apresentamos. É certo que cada um de nós pensou seriamente no trabalho desenvolvido pelo aluno e não acredito que a nota que cada professor apresentou seja proposta de ânimo leve. Eu acredito que é devidamente ponderada, mas isso não lhes dá o direito de se desligarem das suas obrigações. Os colegas disseram-me que a reunião correu bem (apesar de a minha direcção de turma ter sido a minha primeira reunião da semana)– cumpri o horário, as propostas de retenção/progressão foram bem justificadas, a ordem de trabalhos foi devidamente cumprida mas no fim senti uma agonia. Não me perguntem porquê, mas fiquei triste, desiludida, comigo, com os outros, com a falta de respeito…

O que ainda me revolta mais é a informação que vai saindo a conta-gotas – “neste Conselho de Turma preencheu-se este documento”; “no outro não se fez nada disso” – confusão, total confusão! Uns pedem umas coisas, outros dizem que não é necessário, uns fazem de um modo, outros de outro.
E eu? Que faz uma Directora de Turma que o é pela primeira vez? Ouve daqui e dali, tenta ver o que realmente é importante, confronta legislação, sente-se perdida, desorientada, mergulhada num mar de burocracia, pergunta a um colega, confronta outro – socorro! Onde está a uniformização de critérios? Porque partir do princípio que toda a gente sabe de tudo, sabe dos usos e costumes da escola? Bolas, eu sou nova por aqui! Além disso, mesmo quem está numa escola há muito tempo, acaba por se esquecer de certos detalhes de um ano para o outro.

No dia seguinte lá compareceram os pais. Uns concordaram, outros não, um não apareceu. Tudo foi anexado ao relatório – as avaliações, o parecer, o relatório analítico do Conselho de Turma, os planos de que o aluno foi alvo. A fase seguinte é com o Conselho Pedagógico. Depois logo se verá. Na 3ª feira são as matrículas…

A terminar a semana, a notícia de que o trabalho não fica por aqui. A DREN quer uma base de dados sobre os planos de recuperação, acompanhamento e desenvolvimento. Novamente é o Director de Turma que tem a tarefa de a preencher – por aluno, por disciplina, por competência a ser desenvolvida. Adivinha-se uma semana de luta renhida por um lugar no computador!

Quem me vê de volta ao ninho pergunta – “Já de férias?”. Quem dera! Não estão longe é certo, mas ainda falta muito a fazer: concluir o ano, preparar o próximo.

Não pensem por isso que os professores são aquela classe priveligiada que já está de férias. Quem passar pela frente de uma escola, durante o próximo mês não se admire de ver o parque de estacionamento completo. Afinal, ser professor não é só dar aulas!

domingo, 24 de junho de 2007

Em pausa, mas breve!

Agora que as aulas terminaram, as reuniões estão mesmo aí!

Já não é novidade para ninguém que a burocracia tem entupido os Conselhos de Turma.

Ora vejamos (e a ver se não falta nada):

- avaliação dos planos de recuperação;
- formulação dos planos de acompanhamento;
- relatórios de retenção ou progressão, para o caso dos bi-repetentes;
- avaliação das áreas curriculares não disciplinares;
- conclusão do Projecto Curricular de Turma;

Ah, sim, e "cantar" os níveis!

Por isso, meus amigos, desculpem-me se nos próximos tempos não vos visitar.

É que vou estar ocupada a:





Mas assim que este stress terminar eu irei visitar-vos a todos e responder aos desafios!

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Em avaliação!

Estou em avaliação!
Bom, não sou eu, ainda não! Os concursos de titulares já se realizaram e não falta muito para o ser...

Também não é este blog, que ainda há pouco começou.

A avaliação diz respeito à escola, aos alunos, diz respeito ao final do ano lectivo que está mesmo à porta.

Esta última semana na escola não se prevê nada fácil - auto-avaliações; laboratório aberto à comunidade, actividades recreativo-culturais, reuniões de avaliação para preparar, em especial a minha!

Talvez tenha sido impressão minha, mas quer-me parecer que este período nem existiu. Foi um ar que se lhe deu e ups, já terminou.

Pode ter sido pequeno em tamanho, mas rico, para não dizer ríquissimo em actividades (ou melhor, dias sem aulas):

- visita de estudo do 8º ano;
- visita de estudo do 7º ano;
- 3 feriados;
- 2 dias de provas de aferição;
- 2 dias de exames nacionais;
- Dia Mundial da Criança;
- 4 dias de actividades recreativo-culturais.

Penso que não me esqueci de nada!

É certo que algumas das actividades listadas ainda se irão realizar, mas por isso mesmo são aulas a menos. O que para nós professores nos deixa aflitos no que respeita ao cumprimento de programas, mas que para os alunos é indiferente - de qualquer maneira já só pensam nas férias... (também eu!)

É ainda época de avaliações, dor de cabeça para os professores que se vêem perseguidos pelos alunos, chorando pela positiva, fazendo-nos crer que só nós os podemos salvar de uma retenção quase certa (e depois vai-se a ver e os dedos da mão não chegam para contar as negativas).

Há ainda aqueles alunos que pensam que pelo facto de conseguirem obter um nota positiva em todo o ano lhes garante a sua aprovação, o merecido 3! Ora, como diz a MJ " porque não realizam apenas esse teste durante o ano? Se ele vale pelos outros todos, basta realizar um!".

Do outro lado ficam os alunos que vêem o mundo desabar à sua frente apenas porque obtiveram uma negativa neste último teste.

Existe ainda um grupo de alunos que nos faz roer por dentro. Aqueles que no 3º período simplesmente tiram férias antecipadas. Literalmente é isso que acontece - faltam aos testes, não realizam nenhuma actividade das solicitadas pelo professor, perturbam a aula. Enfim, simplesmente desligam e nós, por mais que nos custe, somos obrigados a aceitar este comportamento e a avaliá-los de forma positiva, quando na realidade o que nos apetecia era castigá-los!

Ao contrário do que os nossos alunos pensam, as notas não são "dadas" de ânimo leve. Não são "dadas" em função de caras bonitas e engraxadelas. São devidamente ponderadas, tendo em consideração os critérios de avaliação definidos no início do ano e apresentados publicamente.

No caldeirão, qual bruxa da Branca de Neve, estão parâmetros cognitivos, afectivos e psicomotores, onde se inclui todo o trabalho desenvolvido durante as aulas, assiduidade, pontualidade, participação, cumprimento das tarefas, enfim...

O resultado será a nota merecida, não a nota desejada!

Este é o prémio dos alunos, o troféu entregue áqueles que durante o ano se esforçaram, lutaram por um bom trabalho, apesar das suas dificuldades. Porque este é o seu trabalho!

sábado, 9 de junho de 2007

Festa do Carneirinho

Outro dia na escola, em conversa com um colega, falava-se da festa do carneirinho.
É uma festa única, que se realiza em Penafiel, na véspera do feriado do Corpo de Deus.

Trata-se de uma festividade na qual os alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico ofereciam um carneirinho ao respectivo professor. Hoje a tradição ainda se mantém, é motivo de orgulho, sendo organizado neste dia um desfile pelas ruas da cidade, terminando com a entrega da oferta aos professores.

Para saberem um pouco mais passem por aqui!

Achei muito curiosa esta tradição, num país que é repleto delas. Mas o que me admirou ainda mais foi o objectivo desta festa. Nos tempos que correm, em que o professor está tão mal visto, ainda há locais que enaltecem a figura do professor, que o respeitam, que lhe oferecem prendas e não estaladas, pontapés e palavrões.

Poderíamos pensar que se trata de uma trégua no ataque à sua figura, mas não quero pensar assim. Quero acreditar que esta tradição se mantém, não por obrigação, mas por se considerar que o professor é uma figura de respeito, que se preocupa, que tenta dar o seu melhor na formação dos homens e mulheres de amanhã.
Passem por aqui e vejam a reportagem da festa deste ano.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Desafio ao quadrado!

Desafio 1

Novamente apanhada na rede dos desafios, desta vez ao quadrado! E assim, respondendo ao desafio da Stôra, cá estou revelando (mais) um pouco de mim, na primeira pessoa:

Eu quero: ser feliz, de verdade!
Eu tenho: alguns amigos verdadeiros.
Eu acho: que tenho tido alguma sorte na vida.
Eu odeio: falsidade e desprezo.
Eu sinto: que ser professora é mesmo a minha vocação.
Eu escuto: vezes sem conta a mesma música, quando gosto mesmo dela.
Eu cheiro: ao meu perfume preferido, Burberry.
Eu imploro: quase nunca. Não tenho feitio para isso.
Eu procuro: o amor verdadeiro, a amizade sincera.
Eu arrependo-me: de não dizer o que sinto, na hora certa.
Eu amo: a vida, a minha família e a minha profissão.
Eu sinto dor: quando alguém me magoa (e não é fisicamente).
Eu sinto falta: de um carinho, de acordar pela manhã e sentir o cheiro do mar…
Eu importo-me: com quem me é próximo.
Eu sempre: fico corada quando alguém me dá um elogio (e às vezes, em situações banais, também).
Eu não fico: zangada com ninguém (pelo menos durante muito tempo).
Eu acredito: no valor da amizade.
Eu danço: só se for em sonhos…
Eu canto: em especial no carro (coitado do meu carro, aquilo que ele ouve...)
Eu choro: quando me sinto triste, magoada ou com uma boa gargalhada!
Eu falho: às vezes. Ninguém é perfeito!
Eu luto: por aquilo que considero justo, pelos meus objectivos, pelos meus ideais.
Eu escrevo: as minhas opiniões, os meus sentimentos, os meus olhares aqui neste espaço.
Eu ganho: quando me dou a quem precisa.
Eu perco: quando me dou a quem me magoa.
Eu confundo-me: a mim própria? Acho que não.
Eu estou: sempre disponível para ouvir, para dar o meu conselho, o meu ombro.
Eu fico feliz: quando me surpreendem agradavelmente. Adoro uma boa surpresa!
Eu tenho esperança: que as coisas na minha profissão melhorem.
Eu preciso: de férias, urgentemente.
Eu deveria: arranjar mais tempo para pôr a minha leitura em dia.
Eu sou: bem disposta, organizada, amiga sincera, tímida...
Eu não gosto: de pessoas que me apunhalam pelas costas.

O desafio é agora lançado a estes amigos:







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Desafio 2

Eu avisei que o desafio era ao quadrado (a Stôra não perdoa...) Por isso, aqui vos deixo o meu meme*

Diz-me e eu esquecerei.

Ensina-me e eu lembrar-me-ei.

Envolve-me e eu aprenderei.

(Prov Chinês)


E os próximos a responderem a este desafio são:








(*) Um "meme" é um "gen ou gene cultural" que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou aos teus descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. Simplificando: é um comentário, uma frase, uma ideia que rapidamente é propagada pela Web, usualmente por meio de blogues. O neologismo "memes" foi criado por Richard Dawkins dada a sua semelhança fonética com o termo "genes".


PS. Desculpem-me os visados se por acaso já foram "provocados" para estes desafios, anteriormente. Aos que não foram o desafio está lançado...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Dia Mundial da Criança

Um dia disseram-me que isto de haver dias especiais era um pouco caricato, uma vez que só havia dias dedicados às minorias - dia da mãe, dia do pai, dia da criança, dia da mulher... Não me lembro da pessoa que o disse, mas sei que não concordo inteiramente com a afirmação. Se existem pessoas especiais, pela função que representam, o nosso tributo deve ser-lhes dedicado através de um dia, também ele especial.

Este ano, pelo menos no nosso país, este dia ganhou um novo significado. Foram lembradas todas as crianças desaparecidas no nosso país. Nunca como agora se falou tanto neste assunto, por isso mesmo não vou dedicar este post a falar sobre o caso (que me perdoem os leitores, mas no meu ponto de vista, estamos numa fase de saturação devido, em grande parte, aos meios de comunicação social).

Mas ainda neste dia não podemos deixar no esquecimento as crianças que sofrem por causa de guerras, que são exploradas em termos de trabalho infantil, que passam fome, que sofrem...

Muitos dos que por aqui passam são professores, lidam diáriamente com crianças. É o nosso ofício. Todos temos histórias para contar, boas e más, que envolvem as nossas crianças. Deitamos as mãos à cabeça quando nos tiram do sério, quando conversam em vez de nos ouvir, quando brincam em vez de estudar, quando nos respondem em vez de acatar os nossos pedidos ou mesmo ordens. As crianças hoje em dia são diferentes. Já não há brincadeiras de rua (como eu tinha no meu tempo) porque o computador substitui os companheiros; já não há grupos de brincadeira porque os jogos são individuais, já não há discussão sem haver "troca de galhardetes" com pontapés, murros e palavrões obscenos. São as crianças de hoje.

Algumas apresentam este comportamento como forma de chamar a atenção, pela falta de atenção e de carinho que têm por parte da família; outras parecem ter a ruindade dentro de si, um mal que se não for tratado nestas idades pode agravar-se no futuro, podendo terminar em marginalidade; outras ainda não podem ser melhores por não terem o apoio, o modelo a quem se agarrarem. Neste grupo incluo o T., um menino da minha escola. Tem um olhar triste, anda sempre sujinho, tem dificuldades de aprendizagem. Contam que quando chegou à escola parecia um autêntico bicho do mato, até pela janela das salas saía. Hoje está um pouco melhor, mais meigo. Dizem que provém de uma família problemática. Pobreza! Mas hoje teve o seu dia, hoje a escola apresentou-se cheia de actividades dedicadas às crianças. Hoje divertiram-se, brincaram, hoje foram crianças! E os professores também!

As actividades de hoje incluíam a passagem pelo laboratório de Física e Química, onde realizavam uma pequena actividade experimental. Os pequenos ficavam deslumbrados pela sala (é um laboratório) e logo a primeira pergunta era se iriam fazer explodir aquilo tudo (ainda não percebi qual a razão que leva os alunos a pensarem que os cientistas destroem sempre os laboratórios). Os olhos daquelas crianças iluminavam-se quando, inexplicavelmente a água transparente ficava rosa carmim - "Oh, parece magia! Não pode ser! (**)

Somos crianças e ansiamos por ser adultos e quando o somos temos saudades do tempo em que brincávamos, em que não havia preocupações, canseiras e sentimos pena por não termos aproveitado da melhor maneira esse tempo. Por isso, a todos vós eu desejo:

Feliz Dia a todos os adultos que ainda têm uma criança dentro de si!

________________________________________
(**)
A actividade realizada relaciona-se com o uso de indicadores para identificação de ácidos e bases. Para quem não conhecer, aqui fica a dita!
1. Num copo coloca-se água e adiciona-se uma gota de fenolftaleína.
2. Transfere-se a água para outro copo.
3. Como por magia a água torna-se rosa carmim.
O segredo: No segundo copo tinha-se colocado uma gota de hidróxido de sódio (também conhecido por soda cáustica) que é uma substância alcalina. A fenolftaleína, que é um indicador, muda de cor na presença de substâncias alcalinas, passando de transparente para rosa-carmim.